sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O Gigante que Uniu!


Nós nos conhecemos  há mais de 10 anos quando eu, em meio a uma crise de depressão, descobri um jogador que tinha tudo para ser vencedor dentro do clube que amava.
Numa tarde de domingo, 10/06/2004, num greNAl, o clássico classificado por muitos como o de maior rivalidade surgiu, ‘o rapaz cabeludo que saiu do banco de reservas do Internacional para fazer história...’
Sim, essa história todos nós conhecemos, mas é inevitável lembrar e se emocionar.
Nós colorados ganhamos um líder, eu ganhei uma motivação para sair de casa e ir ao estádio acompanhar ainda mais de perto o meu Inter.
A raça que aquele rapaz demonstrou já na estreia me chamou a atenção e fui ler mais sobre ele.
Nasceu em Goiás, iniciou a carreira por lá, foi para a França e observado por Fernando Carvalho, um ‘expert’ em talentos, veio para o nosso clube. Ele era simples. Gostava de andar de chinelos, camisa surrada, bermudas de elástico na cintura, falar ‘gírias interioranas...’
Adorava estar no meio de gente humilde, cantar modas de viola, ouvir sertanejo de raiz...
Ao mesmo tempo sabia ser refinado, vestia-se impecavelmente em ocasiões especiais, portava-se como um ‘Lord.’
E também sabia liderar!
Quando assumia algo, assumia além das responsabilidades e tornava-se  O Gigante.
Seu nome significava ‘Inteligente, Protetor.’ E isso, ele era...
Aos poucos eu ia voltando a ter vontades... Vontade de sair de casa e ir ao estádio, ouvir música, colecionar fotos daquele que seria mais tarde um amigo querido.
Fernando era menino sapeca. Adorava brincar, soltar sonoras gargalhadas, viver!
Foi ‘maestro’ da nossa  primeira conquista da Copa Libertadores em 2006 e teve uma parcela imensurável de contribuição  na conquista do Mundial  de Clubes, nosso título de maior expressão.
Tornou-se além de um jogador referência, Diretor Técnico, Treinador e acima de tudo... Torcedor dos mais apaixonados.
Sofria com a distância do clube, da sua torcida, do seu povo!
Aos nossos olhos foi uma passagem rápida por este plano, aos olhos de Deus, cumpriu a sua missão.
Foram 36 anos alegrando pessoas da família, orgulhando uma mãe apaixonada, honrando a família que gerou com extremo amor, dedicação e cuidado, amando incondicionalmente a esposa, sua companheira da vida, eterna namorada, deixando amigos a cada dia mais cheios de admiração, dando exemplos de raça, garra, humildade e grandeza a torcedores dos clubes por onde passou ou não, com sua gigantesca luz de líder – campeão.
Na noite de 7/06/2014, o dia em que Fernando partiu, rumei ao Estádio Beira Rio com alguns amigos. Lá, desde cedo, torcedores haviam escolhido um local, nenhum melhor, o local onde já havia o título, Gigante Para Sempre...
Colocaram o nome FERNANDÃO antes do título (que passou a ser: Fernandão, Gigante Para Sempre), deixaram recados e mensagens escritas na parede, flores, velas, lembranças...
Quando cheguei ao local foi um impacto. Muitas pessoas, cantos, orações, lágrimas, abraços e o que me soou curioso na hora, torcedores do maior rival do Sport Club Internacional, nosso clube do coração, estavam lá. Um tanto quanto tímidos, mas fardados com a camisa do seu clube, cantavam em meio à nossa torcida, choravam, oravam, faziam silêncio...
Foi emocionante! Conhecedores da pessoa Fernando Lúcio da Costa - Fernandão sabem que ele estaria feliz em ver aquela união, afinal, sempre respeitou adversários, a escolha e a trajetória do clube daqueles torcedores.
Na minha vida como amante do futebol, desconheço passagem semelhante, um Gigante que uniu as duas torcidas ditas de maior rivalidade em demonstrações de admiração e respeito.
Esse feito, somente poderia ter vindo daquele que aos meus olhos foi e sempre será O Melhor de Todos, O Eterno Capitão do Mundo.
Fernandão Eterno!

Luciana Lima


* Texto que escrevi para participar do concurso cultural da FECI.
Serei condecorada com  Medalha de Mérito Cultural Poético.
10/10/2014



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