sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"Eduardo"

"Eduardo" era um Deus de Èbano... Filho adotivo de uma família que o amava acima de tudo...
Moço negro, bonito, lábios carnudos, pele lisa, um homem lindo e interessante...
Adorava rock... Negro? Rock? Sim, por que não??
Era vocalista de uma banda. Tinha uma voz linda que veio dos céus...
Compartilhávamos de muitas amizades...
A turma que para mim era sinônimo de proteção, para ele era perdição...
"Eduardo" inundou-se numa vida perdida, sem voltas.
Drogas, sexo inseguro, música, álcool, carros...
Perdeu-se na vida, porém continuava grande amigo...
Em nossos últimos encontros eu o via "louco", viajando em uma vida, em hábitos que o afundavam a cada dia na escuridão...
Meu amigo Deus de Èbano contraiu HIV.
Revoltou-se contra si mesmo, chorou, relutou em aceitar que a morte o acompanhava ali, bem pertinho porque ele se negava a tratar-se...
O bom filho virou mau filho, porém continuava bom amigo...
Sofríamos em vê-lo perdido, sem poder fazer nada, sem que ele aceitasse qualquer coisa que dizíamos, mas o carinho dele em especial por mim continuava...
Um dia sentada, recostada em uma árvore vi Eduardo chegar com o violão na mão...
Estávamos rodeados de amigos...
"Posso sentar aí?"
È claro que sim!
Sentou-se em meio às minhas pernas, colocou a cabeça no meu peito, recostou-se em mim como eu à àrvore e começou a dedilhar uma música do Led Zeppelin, sua predileta...
O mundo girava, mas não para nós, ali sentíamos sozinhos.
Ele em sua viagem, seguro no colo de uma amiga a quem ele amava demais, eu com aquele menino lindo, querido e agora frágil no colo, pedindo a Deus que o mantivesse conosco...
O dia nasceu, as pessoas não saíram dali...
Porém o cansaço tomava conta e fomos pra casa.
Nos despedimos ali...
Foi nosso último encontro...
Eu tomei outros rumos, aquela vida de virar noites na rua tocando violão e vendo pessoas se drogarem já não me fazia feliz... Ele, pelo que sei, continuou a trilhar aquele caminho até que o tempo passou e Deus o chamou para o mundo dos que se perderam nessa vida...
Quem sabe hoje "Eduardo" canta por aí, com aquela voz que até hoje lembro nitidamente do tom, aquela voz rouca...


** Escrevi sobre "Eduardo" - nome fictício de um grande e amado amigo - porque minha filha Ana Carolina me fez lembrar daquela época, daquele negro, lindo, leal amigo e Colorado... **

Nenhum comentário: